Um dos cuidados que muitos criadores de conteúdo não se preocupam em ter é o de contar a história da sua arte marcial da forma errada.
Ao fazer isso, além de publicar conteúdo de senso comum você pode acabar criando conteúdo repetido e sem profundidade.
Dessa forma, seu conteúdo acaba caindo na mesmice e você se torna só mais um publicando exatamente o mesmo conteúdo, mas com as suas palavras.
Assim, seu vídeo não traz novidade para o público e ele acaba se tornando irrelevante.
Por isso, neste artigo e no vídeo abaixo vou te dar algumas dicas de como não cair na mesmice publicando conteúdo repetido.
Não Confunda A História De Uma Arte Marcial Com As Suas Lendas
Um dos problemas com vídeos que contam a história de uma arte marcial é contar lendas como se fossem a verdade absoluta e a única explicação para o surgimento daquela arte marcial.
Por exemplo: existe uma lenda de que o kung fu louva-a-deus foi criado a partir da inspiração na luta de um louva-a-deus com uma cigarra.
Outra lenda é a de que o wing chun foi inspirado na luta de uma garça com uma serpente.
Existe algum problema em contar essas lendas?
Não, afinal são lendas que fazem parte da cultura e tradição destas artes marciais.
O problema é contá-las como se fossem verdades inquestionáveis, como se fosse a história verdadeira sem que haja evidência disso. Ou, até quando há evidências contrárias, como na lenda de que Bodhidharma criou o kung fu.
Existe uma lógica dentro do mito, existe um sentido, até porque o mito é uma forma de explicar alguma coisa. Mas, assim como filmes de ficção tem um sentido, não significa que seja a verdade.
Um exemplo mais atual é o do sanda. Hoje em dia tem se tornado comum dizer que o sanda surgiu no exército chinês e tem suas origens nos combates populares em cima de uma plataforma elevada chamada leitai.
Dizem que com o tempo o governo chinês colocou regras e criou a modalidade esportiva que é hoje.
Mas qual governo chinês? Qual exército chinês?
Em que momento alguém resolveu colocar regras nos combates populares e transformar em um esporte e por quê?
Quando e como alguém decidiu transformar o que era praticado no exército em uma modalidade esportiva?
Essas questões podem parecer óbvias, mas não são. E se você não tem resposta para elas, então existe uma lacuna. E com essa lacuna você não deve afirmar com certeza que foi assim que aconteceu.
História Precisa De Um Processo Histórico
Não é porque a plataforma de combate do sanda faz referência ao leitai dos combates populares (que é uma referência até óbvia) que o sanda se desenvolveu deles.
Falta uma coisa nessa narrativa, o processo histórico. Se quiser saber sobre processos históricos ligados à criação do sanda, leia este outro artigo.
Mas o que são esses processos? São sucessões de eventos que levam uma coisa a se transformar em outra.
Um exemplo de processo histórico é o do surgimento do esporte.
O esporte surgiu na Inglaterra no contexto das revoluções industriais e dentro de um fenômeno chamado de processo civilizador.
Nesse contexto os jogos populares foram proibidos e só podiam ser jogados nas escolas públicas. Então, para jogar umas contra as outras as escolas unificaram as regras em assembleias e criaram associações esportivas.
Isso é processo histórico que explica como os jogos populares ingleses se transformaram no que hoje chamamos de esporte.
O boxe surgiu nessa época ligado a apostas de bares. Assim como os jogos populares, com o tempo surgiram regras e se transformou no que é hoje. Aqui temos outro processo histórico, o do surgimento do boxe.
Então tome cuidado para não fazer uma narrativa popular se passar por verdade absoluta. Muitas narrativas tidas como verdades são apenas anedotas, contos. Elas tem seu valor cultural, mas é preciso deixar claro que são lendas.
Além disso, o fato de uma modalidade fazer referência a uma prática mais antiga, como no caso do sanda, não significa que ela tem origem naquela prática.
Não Caracterize Sua Arte Marcial De Forma Genérica
Outra cuidado que você precisa ter ao contar a história da sua arte marcial é ao caracterizar suas técnicas.
Isso acontece em muitos vídeos com o objetivo de apresentar uma modalidade. A estrutura comum de muitos deles contém três etapas.
A primeira é contar uma lenda sobre o surgimento do estilo. Em seguida se diz quais são os tipos de técnica que caracterizam aquela arte marcial. E por último convidar o espectador a aprendê-la na sua escola.
O problema é que na segunda etapa é corriqueiro apresentar características em comum com muitas outras artes marciais como se fossem um diferencial.
Por exemplo: o estilo possui movimentos explosivos e precisos com as palmas, punhos, cotovelos, joelhos, pés, projeções e chaves.
Mas você consegue, a partir desta descrição saber de qual arte marcial estou falando?
Este tipo de técnica não está presente em muitas outras? Estas características não descrevem, genericamente, dezenas de artes marciais diferentes?
Vamos supor que eu acrescente que esse estilo busca trazer o adversário para perto e lutar na curta distância. Você consegue saber se estou me referindo genericamente, por exemplo, ao louva-a-deus ou wing chun?
Percebe que caracterizar minha arte marcial a partir desta descrição não diferencia ela de outras?
Então se você quer mostrar o diferencial da sua arte marcial, mencione o diferencial. Falar de generalidades não vai deixar claro para o público qual é a característica que a difere das outras!
Fale Sobre Os Benefícios De Aprender Com Você
Portanto, se você quer produzir um conteúdo sobre a história da sua arte marcial, seja diferente.
Se você pretende contar uma lenda, explique que é uma lenda tradicional. Só de deixar isso claro você pode estar se diferenciando, já que a maioria não faz isso.
Se quer contar a história, então pesquise documentos que expliquem sobre o contexto da época em que surgiu, como uma coisa se transformou em outra e POR QUÊ.
E por último, se o objetivo do intuito é convencer o espectador a procurar a sua escola, fale quais são os BENEFÍCIOS de praticar sua arte marcial, na sua escola ou com você.
Afinal, para quem está procurando uma modalidade para aprender, os benefícios são muito mais importantes do que a história dela.
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