Quem participa ou frequenta competições de kung fu muitas vezes encontra a modalidade de combate tui shou. Só que o que muita gente não sabe é que tui shou não é combate. Nesse artigo vou ser um pouco mais crítico, então me perdoem, pois a intenção não é ofender ninguém.

Tui shou é um termo em mandarim que significa “empurrar mãos” ou “mãos coladas”. Por usar termos em cantonês, no wing chun este exercício é chamado de chi sau. Também é conhecido como pushing hands. Se refere a um exercício de artes marciais em que os parceiros ficam conectados pelos antebraços. Talvez possamos dizer que artes marciais chinesas não existem sem o tui shou. Mesmo que frequentemente seja esquecido, todo estilo chinês tem a sua forma de tui shou, mesmo que com outro nome.  Seja chinesa ou não, qualquer arte marcial mais refinada possui alguma forma similar a este exercício com objetivos semelhantes.

O objetivo deste exercício é desenvolver sensibilidade aos movimentos e à força do adversário. Como depende muito da pele, desenvolve bastante a sensibilidade tátil, ou seja, a sensibilidade ao toque. Assim, quanto mais se desenvolve o exercício, ao menor contato físico com o adversário se percebe sua intenção e a direção de sua força. Essa habilidade diminui o tempo de reação ao ataque do oponente, o que permite lidar com ele mais rápido. Além disso, permite redirecionar a força dele e utilizá-la a seu próprio favor.

Tui Shou Não é Combate

Em competições o combate tui shou aparece sob duas formas, passos fixos e passos livres. Nos passos fixos (alguém me explique por favor o que é um “passo fixo”!) os pés não podem sair  do lugar. O objetivo é fazer o oponente tirar pelo menos um dos pés de uma marca no chão. Nos passos livres é permitido andar e o objetivo é tirar o adversário da área de competição.

Muita gente que não conhece a prática quando vê o combate tui shou pensa que não tem nada a ver, que não tem sentido. Essas pessoas tem razão, não tem sentido mesmo porque tui shou não é combate! Não é uma técnica e nem uma estratégia, mas sim um exercício para combate e não se faz competição de exercício. Um combate real não é igual ao tui shou/chi sau, ninguém combate dessa forma. Assim, uma competição de tui shou tem tanto sentido quanto uma competição de aquecimento…

Embora essas competições existam há muito tempo, mesmo na China, quem as criou não entendeu o propósito do exercício. No fim das contas os praticantes acabam se preocupando em vencer o outro ao invés de desenvolver sua sensibilidade. O resultado é que se vê algo semelhante a um cabo de guerra, só que empurrando ao invés de puxar. Infelizmente isso acaba engando os praticantes, que acabam fazendo algo sem entender do que se trata, não desenvolvendo as habilidades que poderiam desenvolver.

Caso você esteja interessado em conhecer e talvez aprender o tui shou, sugiro que você conheça o lao qigong, que possui essa prática muito bem estruturada. De todo modo, agora você já sabe: tui shou NÃO é combate!

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4 Comentários

  1. PAULO LIMA disse:

    Você está se referindo ao Tuishou básico em que se desenvolve sensibilidade. No Taichichuan estilo Chen, por exemplo, temos diversos níveis de tuishou que chegam ao combate com chutes e socos. Teremos um Seminário aqui no Rio de Janeiro na Academia Alliance no Leblon, nos dias 12 a 14 de maio de 2017 em que o Instrutor Chefe da Equipe de Tuishou de Chenjiagou, Chen Ziqiang irá abordar algumas das modalidades de Tuishou. Se houver interesse te mando o folder.

    A propósito, “passos fixos” é uma tradução errada para o termo chinês que na verdade signifca “pés fixos”. Saudações.

    • jeronimo disse:

      Obrigado pelo comentário Paulo, já conheço o Chen Ziqiang, se não me engano ele esteve aqui num seminário no ano passado, não esteve? Eu vi algo a respeito, se não estou errado. Ele não é do método prático? De todo modo, obrigado pela informação. No yiquan temos também vários níveis de tuishou, que chegam próximos do combate também. Mas a partir do momento que se chega ao combate, já não é mais tuishou e sim combate.
      Com relação a “passos fixos” é óbvio que quem deu esse nome não atentou ao que estava falando.

    • Guilherme Pelegrino Gonçalves disse:

      Olá Jeronimo, como praticante e professor tanto de Taijiquan e Tuishou, venho complementar a sua explicação. O TuiShou é tido em termos tradicionais de duas foras, a primeira como simples exercício e a segunda é como um jogo e não combate, mas o jogo não é difícil de encontrar videos do Grão Mestre Chen XiaoWang demonstrando esse jogo. O grande problema do TuiShou de competição eu não vejo que seja a própria modalidade ou objetivo de medalha ou algo dessa forma e sim a grande falta de preparação dos atletas que se colocam á praticar o TuiShou, a grande maioria não sabe realizar nem os TaoLu básicos como o Taijiquan 16 ou 24 direito, não conhecem os princípios ai chegam na competição para jogar o Tuishou e fica realmente horrível, chegando a atrapalhar quem sabe, parece um cabo de guerra.

      Então acredito que o verdadeiro problema do TuiShou não seria ele nãos ser um combate e sim as pessoas não praticarem o Taijiquan de verdade para jogar o tuishou.

      Mas parabéns pela iniciativa e por abordar assuntos das artes marciais internas!!

      • jeronimo disse:

        Obrigado pelo ponto de vista Guilherme. Embora eu não seja adepto da divisão interno/externo sou também praticante do que se costuma chamar de interno. Sinta-se sempre bem vindo para acrescentar ao blog!