O sistema de graduação de modalidades de combate já é consolidado há décadas. Seguindo a lógica de outras modalidades esportivas de combate, organizações pelo mundo afora tem criado sistemas de graduação de sanda.

Porém, ser consolidado não é sinônimo de benefícios. O que funcionou no passado pode não ser mais necessário nos tempos atuais. Por isso precisamos questionar os paradigmas, evitando copiar o que é feito em outras modalidades. Dessa forma podemos traçar novos caminhos mais condizentes com a nossa realidade e com as necessidades do sanda.

Então, neste artigo vou apresentar 3 motivos pelos quais os sistemas de graduação de sanda prejudicam a modalidade. Dica: o número 3 é o motivo mais importante.

Espero com esse artigo ampliar o olhar para novas possibilidades para o desenvolvimento desta modalidade.

#1 – Não Há Sentido em Exames de Graduação de Sanda

Em algumas modalidades a competição acontece de acordo com a graduação. Um atleta faixa amarela não compete com um faixa preta, por exemplo. No caso do sanda, especialmente no Brasil, não há competição separada por nível. Isso pode ser porque não há contingente suficiente de atletas ou, ao contrário, causa da evasão de atletas das competições ou para outras modalidades. Tendo a acreditar mais na segunda hipótese.

Mesmo que houvesse competição por nível o lutador não depende apenas das técnicas do seu nível de graduação. Para lutar em uma competição de sanda ele precisa de técnicas de outros níveis de graduação além do seu. Principalmente se ele enfrenta atletas de níveis mais avançados do que o seu.

Então vamos supor que até determinado nível da graduação exista 3 tipos de soco 3 de chute e 2 de projeção. Para lutar contra um atleta de nível acima será preciso saber técnicas dos níveis superiores. Assim não há sentido em pagar para fazer exames de graduação de sanda sendo que você já sabe as técnicas dos níveis superiores.

Sendo assim, o exame serve apenas como fonte de lucro para as academias, federações e confederações, fazendo com que o aluno gaste cada vez mais dinheiro, periodicamente.

Além disso, é comum que se estabeleça um tempo mínimo de permanência em cada nível da graduação. Isso traz vários problemas, mas esse assunto é para outro artigo.

O Conteúdo Precisa Ser Mais Abrangente

Para solucionar esse problema seria preciso fazer com que as competições aconteçam conforme o nível e proibir a utilização de técnicas dos níveis superiores.

Assim, técnicas mais perigosas seriam proibidas nos níveis iniciantes, mas para isso o conteúdo dos primeiros níveis precisa ser mais abrangente. No mínimo seria necessário estabelecer um nível mínimo da graduação de sanda para poder competir.

Além disso, seria preciso avaliar se isso traria benefícios para a modalidade. Se essas medidas diminuíssem a evasão de praticantes, aumentassem a segurança dos iniciantes e estimulasse o aumento do nível dos atletas avançados da modalidade, aí sim deveriam ser adotadas. Caso contrário, a graduação de sanda deveria ser descartada.

Também é preciso uma maneira de incentivar mais praticantes a participarem de competições, mesmo aqueles que não querem lutar. A forma que eu indico para isso é esta aqui.

#2 – Exames de Graduação de Sanda São Muito Caros

Outro problema relativo à graduação de sanda diz respeito aos custos com exames de faixa, principalmente para professores.

No Brasil as taxas de exame de faixa preta são abusivas. Em modalidades como judô, taekwondo e karatê se paga mais de R$ 1000,00 dependendo do dan (grau).

No taekwondo, com todos os custos de regularização, avaliação e documentação um exame para 1° dan pode chegar a R$ 1.885,00. Para o 4° dan esse valor chega a atingir R$ 5.300,00.

Em algumas federações de hapkido paga-se 2 salários mínimos no exame para o 1° dan, chegando a 8 salários no 5° dan.

Esses valores estão completamente fora da realidade do poder aquisitivo do brasileiro. Na Coreia, por exemplo, esse tipo de exame custa por volta de US$ 100,00 a US$ 200,00, uma realidade completamente diferente.

No Brasil se paga por volta de R$ 1000,00 por cada exame de graduação de professores de sanda. Dada a condição socioeconômica do brasileiro médio, poucos podem e estão dispostos a arcar com este valor. O resultado disso é que muitos possíveis professores se afastam das federações ou migram para outras modalidades.

#3 – Sanda É um Conjunto de Regras, Não de Técnicas

Diferente do que muitas pessoas tendem a pensar, o que caracteriza o sanda não são suas técnicas, mas sim as suas regras. São as regras da modalidade que dizem quais técnicas são permitidas. Assim, qualquer técnica que estiver dentro das regras é válida.

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Sanda significa combate livre. Não existem técnicas exclusivas do sanda. Não existe soco do sanda, chute do sanda ou queda do sanda. O que existe são golpes permitidos ou proibidos pela regra, atingir as partes válidas do corpo do oponente com as partes válidas do seu corpo.

Portanto, o que impede atletas de outras modalidades, como o karatê, muay thai e taekwondo entrarem em uma competição de sanda? Absolutamente nada. Se eles adaptarem sua lógica de luta dentro das regras do sanda, eles podem usar as técnicas que quiserem. Será necessário apenas aprender as regras, sinais dos árbitros, usar o uniforme do sanda e seus equipamentos.

Dessa forma o sanda é quase como o mma. Existe um conjunto de regras e qualquer pessoa que lutar dentro delas estará lutando sanda. Isso é independente da técnica ou lógica de luta que essa pessoa utilizar. O atleta pode lutar com os chutes e socos que aprendeu por meio do taekwondo ou muay thai e com as projeções do judô ou do wrestling. Só precisa utilizar tudo isso respeitando as regras do sanda.

graduação de sanda

Clique aqui e entenda o desenvolvimento das regras e seu papel na transformação das artes marciais em esportes de combate.

Sistemas de Graduação de Sanda Não Deveriam Ser Obrigatórios

Não há problema em ter um sistema de graduação de sanda, contanto que ele não seja obrigatório. Eliminar o sistema de graduação de sanda ou a sua obrigatoriedade permite que atletas de outras modalidades possam desfrutar das suas competições.

É importante dar oportunidade para que atletas de outras modalidades disputem o sanda sem precisar ser alunos de professores de sanda. Afinal, para lutar o sanda é preciso apenas se adaptar às suas regras e para isso basta fazer cursos de arbitragem.

Fazendo isso a modalidade só teria a ganhar. Ter atletas trazendo a lógica de combate de outras modalidades para dentro do sanda estimularia a adaptação a diferentes estilos de combate. Assim, muitos elementos mais presentes em outras modalidades seriam mais utilizados no sanda. Além disso, os atletas aprenderiam a se adaptar a estes elementos.

Dessa forma, o sanda funcionaria mais ou menos como o mma, com atletas de várias modalidades competindo sob uma única regra. Isso certamente aumentaria o nível tanto dos atletas de sanda quanto os das outras modalidades envolvidas.

Porém, a exigência de uma graduação de sanda inviabiliza estas possibilidades, bloqueando o desenvolvimento da modalidade. Por isso, o sanda deveria evitar seguir o modelo das outras modalidades e criar o seu próprio caminho.

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