Muitos praticantes de arte marcial, iniciantes ou avançados, alunos ou professores, tem dúvidas sobre qual é a melhor arte marcial. Não conseguem definir coisas como qual é o melhor estilo, qual a diferença entre eles, qual é o mais completo, o menos completo, qual está certo e errado… Essas questões geram conflitos entre praticantes, cada qual defendendo a sua como sendo a melhor arte marcial.
Qual É a Melhor Arte Marcial Se o Corpo Humano É o Mesmo?
Para começar, eu gostaria que você entendesse que as artes marciais são todas uma só, pois o corpo humano é o mesmo.
O corpo humano é projetado pra ter duas pernas, dois braços, etc. e funciona igual para todo mundo. Por isso, as possibilidades de movimentos devem ser as mesmas para todos. A menos que algo saia do padrão, como no caso de uma deficiência, em que é preciso fazer adaptações.
Qualquer espécie animal tem a sua forma específica de lutar por causa das características do seu corpo. Os tigres lutam como tigres, cachorros lutam como cachorros e elefantes lutam como elefantes conforme às características da sua espécie. Não existe um tigre que tenha um jeito próprio de lutar que o difira de outros.
Da mesma forma, não há como desenvolver uma arte marcial completamente única, porque o corpo humano é um só. Por isso não existe algo que possa ser considerado como a melhor arte marcial.
Diferenças Culturais e Geográficas
Mas então se não existe melhor arte marcial, por que surgem tantas artes marciais diferentes? Na verdade não é que elas sejam diferentes, o que existe são diferenças culturais e geográficas. Vou dar um exemplo: Barcelona e Real Madrid tem estilos diferentes de jogar futebol. Enquanto o Barcelona prefere passar muito a bola, o Real Madrid prefere chegar rápido no gol adversário.
Uma forma de jogar é melhor do que a outra? Tem gente que defende que a do Real Madrid é melhor, tem gente que considera a do Barcelona. As duas estão certas, mas cada time utiliza diferente o que chamamos de princípios operacionais. O futebol é o mesmo, as estratégias e táticas utilizadas é que são diferentes. Às vezes elas funcionam e às vezes não. Do mesmo modo, se a gente olhar para a forma como as equipes treinam vamos encontrar diferenças.
Trazendo o exemplo para arte marcial, você não esperava que as pessoas na China tivessem exatamente os mesmos métodos de treino que no Japão, esperava?
Dentro de um mesmo país as pessoas tem ideias diferentes. Muitas vezes por estarem separadas pela distância, em relevos e condições climáticas diferentes e influenciadas por isso tem ideias diferentes sobre como treinar. Isso é uma diferença geográfica. Existem também as diferenças culturais.
Diferentes Formas de Se Fazer a Mesma Coisa
No aikido e algumas artes marciais japonesas existem muitas técnicas que são executadas de joelhos. Isso se dá porque o japonês se senta de joelhos.
Já os chineses tinham o costume de se sentar em banquinhos, por isso criaram uma forma de lutar que usa esses bancos. Isso não significa que o japonês não saiba usar um banco pra lutar. Só que por uma diferença cultural, talvez ele não foque ou não tenha pensado nisso.
No hapkido existem técnicas contra ataques em que o agressor segura o oponente pela faixa. Isso vem de um costume de ameaçar segurando pela calça, enquanto no ocidente conhecemos ameaças segurando pela camisa. Novamente, diferença cultural.
No fundo, as técnicas são as mesmas, o que muda são as situações em que elas são treinadas. Muda um detalhe, um jeito diferente de fazer uma mesma alavanca, etc. Artes marciais diferentes entre si possuem formas diferentes de se fazer as mesmas coisas. Na verdade, dentro de uma mesma arte marcial existem várias formas de se fazer a mesma coisa.
Precisamos procurar eliminar o que é supérfluo e ficar com o que é útil
Claro que algumas técnicas de um ou outro estilo podem não funcionar, mas às vezes elas servem como estratégia de ensino, para dar algum entendimento do corpo.
Claro que isso tem os seus limites e depende do nível de compreensão de quem criou, de quem ensina ou de quem aprende. Existem métodos que são característicos de alguns estilos e estes nem sempre funcionam, às vezes até machucam o corpo.
Porém, precisamos entender que algumas pessoas tem um conhecimento mais profundo do que outras. Isso é normal, afinal ninguém sabe tudo.
Por isso precisamos procurar eliminar o que é supérfluo e ficar com o que é útil. Não devemos aderir cegamente a métodos que “sempre foram feitos assim porque são bons”, como alguns dizem. Isso não é verdade, dizer isso é sinal de falta de pesquisa.
Nós não podemos aceitar as coisas sem questionar, isto é, sem refletir, sem testar pra ver se funciona mesmo. Então é importante olhar para outras artes marciais que não a sua, não se pode ser bitolado. Às vezes você pode compreender melhor algum aspecto da sua por meio da explicação encontrada em outra. Isso porque talvez ela de ênfase no ponto em questão ou simplesmente porque você entende melhor aquela explicação do que a do seu próprio professor.
Não Há melhor Arte Marcial, Mas Sim Melhor Método de Treino
Em uma aula de aikido normalmente não se vê muitos socos. Não é porque no aikido não exista, mas porque ele não focam nisso. Mas talvez você possa entender melhor sobre torções com uma explicação de um professor dessa arte marcial. Afinal, como é o foco dela, talvez a explicação desse professor/professora seja mais clara.
Talvez outro estilo tenha uma maneira diferente de treinar um determinado aspecto do que no seu próprio. Não é que a sua forma esteja errada, nem que aquela seja a melhor arte marcial. Mas talvez ela apresente um melhor resultado e você pode se apropriar desse método.
Embora não haja como definir qual é a melhor arte marcial, podemos pensar em quais são os melhores métodos de treino. Voltando ao exemplo do futebol, uma equipe amadora nunca vai ter um método de treino melhor do que uma profissional. Se um país possui muito conhecimento científico sobre determinado esporte, seus métodos de treino serão melhores do que os de um país que não tem esse conhecimento.
Diferenças culturais também podem influenciar nesse aspecto. O esporte nacional da Índia é o críquete. Por isso, seus métodos de treino são melhores do que em países onde pouca gente joga críquete.
Nas artes marciais é exatamente a mesma coisa. Conhecimento científico, herança cultural, influências geográficas, necessidade de sobrevivência, várias são as influências que podem levam ao desenvolvimento de melhores métodos de treino.
Então, não é que uma arte marcial seja melhor que outra. Na verdade, é o método de treino de uma arte marcial ou escola que pode ser melhor do que de outra. Não importa a arte marcial, é preciso procurar o melhor método. Onde houver questionamento e reflexão, os métodos serão melhores. Quem tiver os melhores métodos chegará no mesmo lugar e nas mesmas técnicas.
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