Culpabilização do aluno é um hábito marcante de professores dentro das academias de artes marciais. Isso precisa ser questionado publicamente para que professores possam repensar e reformular sua maneira de ensinar.

Culpabilização é o ato de atribuir a outra pessoa a culpa ou responsabilidade por algo que ela não é responsável.

Culpabilização é o ato de atribuir a outra pessoa a culpa ou responsabilidade por algo que ela não é responsável. Um exemplo comum de culpabilização na nossa sociedade é quando uma mulher sofre algum tipo de abuso sexual e alguém atribui a ela a culpa por se vestir ou se comportar de determinada maneira. Nesse caso é responsabilizar a vítima pela violência sofrida.

A culpabilização do aluno aparece nas artes marciais sob forma de responsabilizar o aluno por não atingir as expectativas. É uma prática muito comum. Quando o professor espera que o aluno consiga fazer um determinado exercício ou técnica e este não consegue, a culpa é de quem? Do aluno que não prestou atenção, que não treinou do jeito que o professor mandou, que faz corpo mole. “A minha parte eu fiz, eu ensinei, eu expliquei. Se não aprendeu é porque não quis” – esse é o pensamento dos professores que possuem o hábito da culpabilização.

O Verdadeiro Motivo da Culpabilização do Aluno

Infelizmente, é muito comum que os professores de artes marciais coloquem a si mesmos num pedestal, julgando-se infalíveis no ensino. Aprenderam de uma forma que acreditam ser a única forma de ensinar, evitando olhar para os lados para checar se não existem outras. “Não vou perder meu tempo com aluno que não quer aprender”. “Tem aluno-mensalidade, que vem, paga e não quer treinar, não sei por que não fica em casa”. Esses são exemplos de frases comumente ditas por professores.

Existem alunos que não querem treinar? Sim, existem, em geral crianças. Muitos pais levam seus filhos nas aulas de artes marciais quando eles não querem. Mas criança às vezes não tem escolha. Já os mais velhos estão lá porque querem, foi escolha deles, então presume-se que eles queiram aprender. Mas não conseguem… Não como gostariam. Se eles querem estar lá, então será que a culpa é deles?

O que acontece é que não existe uma forma de ensinar que seja igual para todo aluno, como os professores querem acreditar. A verdade nua e crua é que se o aluno não consegue aprender, o problema geralmente é o professor. Mas o motivo da culpabilização do aluno é que é muito mais fácil do que olhar para si mesmo. Responsabilizar o aluno é uma forma de desculpa, de justificativa quando o professor não consegue ensinar.

Acabando Com a Culpabilização do Aluno

Existem muitas formas de culpabilização do aluno. Neste artigo eu falo de um deles, que é quando o professor acha que o aluno não leva jeito. A questão é que cada pessoa é diferente e aprende de um jeito diferente. Alguns aprendem vendo, outros ouvindo, outros fazendo. Por isso uma única forma de ensinar não contempla todo mundo. Existem diversos tipos de inteligência, como a inteligência musical, espacial, lógico-matemática e outras. Cada pessoa tem alguns tipos de inteligência mais desenvolvidos do que outros, então o que para uns é fácil de aprender, para outros é difícil.

Alguns alunos aprendem mais fácil porque possuem mais habilidade do que outras, por conta de uma experiência motora prévia. Assim, uma pessoa que tem bastante experiência acumulada com atividades físicas variadas aprende com facilidade. É o tipo de “aluno bom”, o aluno fácil de ensinar, que quase não dá trabalho para o professor. Já uma pessoa que foi sedentária a vida inteira ou que não teve determinadas habilidades desenvolvidas na infância vai ter mais dificuldade em aprender. Essa pessoa vai exigir mais da capacidade do professor. Para um professor que possui poucos recursos didáticos, esse tipo de aluno é um “problema”. Na verdade, o professor é o próprio problema.

Claro que existem alunos que não se adaptam a determinados professores, mas essa é uma questão mais subjetiva, de gosto pessoal. Esses alunos acabarão procurando outro(a) professor(a), que ofereça o que eles buscam.

Não adianta culpar o aluno, é preciso descer do pedestal e ver o que está dando errado.

Professores, é preciso se olhar no espelho! Se o aluno não consegue aprender, é preciso em primeiro lugar questionar seu método de ensino. O trabalho de professor é descobrir formas de auxiliar o aluno a aprender. Se o aluno não treina, se ele faz “corpo mole”, talvez sua aula não esteja interessante. Não adianta culpar o aluno, é preciso descer do pedestal e ver o que está dando errado. Talvez o método de ensino não contemple aquele indivíduo, é preciso procurar outra forma de ensinar. Alunos motivados aprendem, cada um no seu tempo, mas aprendem, então o modo de ensinar precisa ser motivante.

Por isso, não perder tempo com aluno que não quer aprender não passa de uma desculpa. O professor deve investir a maior parte do tempo em descobrir como ensinar os alunos com dificuldade. A capacidade de aprender está ali, é preciso saber como ensinar. Mesmo quando o aluno se mostra desinteressado, é possível encontrar alguma coisa que o faça se interessar. Isso é só questão de pensar um pouco. É muito mais fácil colocar a culpa no aluno, mas o principal responsável quando o aluno não aprende é o professor.

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