Será que todo mundo é capaz de aprender artes marciais? Mesmo as pessoas com as maiores limitações? Essa dúvida incomoda muitos professores e praticantes. Mas todas as pessoas são capazes de aprender artes marciais contanto que o ensino seja adaptado para cada aluno. Para provar isso, neste artigo eu vou mostrar dois exemplos de como adaptar o ensino para cada tipo de aluno.

É Preciso Adaptar o Ensino Para a Linguagem do Aluno

É muito comum que professores e até praticantes acreditem que artes marciais são para apenas um tipo de pessoa. Porém, elas possuem inúmeros benefícios que podem ajudar pessoas com as necessidades mais diferentes. É comum também que professores acreditem que os alunos precisam se adaptar à forma de ensinar do professor. Isso é verdade, o aluno precisa ter afinidade com a forma que o professor ensina.

Porém, embora cada professor tenha seu próprio estilo de ensinar, é preciso adaptar o ensino para uma linguagem que o aluno entenda. Caso isso não aconteça, pode gerar o problema da culpabilização do aluno e cedo ou tarde ele virá a desistir.

Evidentemente cada pessoa possui as suas limitações, objetivos, necessidades e particularidades individuais. Por isso são poucos os que completarão um estilo e menos ainda se tornarão professores e mestres. Mas quando o professor é capaz de adaptar o ensino para cada aluno, público ou necessidade, todos são capazes de aprender dentro dos limites da sua individualidade.

adaptar o ensino

Como Adaptar o Ensino de Artes Marciais

Para dar uma ideia de como adaptar o ensino de artes marciais eu vou apresentar o caso do Pedro. Pedro é um adolescente com um grau severo de autismo, com quem eu trabalhei por pouco mais de um ano. Felizmente ele possui uma mãe fantástica especialista no assunto, que é a Marie Dorion. Ela é autora do blog “Uma Voz Para o Autismo” e neste artigo ela conta um pouco da trajetória desde o diagnóstico do Pedro.

A Marie acreditava que as lutas ajudariam muito o Pedro no desenvolvimento de habilidades motoras. Foi assim que eu cheguei até ele, trabalhando com ele na Motricitá, em Vinhedo-SP. Eu tinha um grande desafio na minha frente, pois não sou um especialista na área de atividade motora adaptada. Por conta do autismo o Pedro tinha a sua própria forma de aprender. E eu precisava de um forma própria de ensinar, específica para o Pedro, que eu tinha que descobrir.

Nos últimos meses com ele eu percebi que estava se tornando mais fácil ensinar as habilidades de derrubar e de cair. Foi então que eu optei por trabalhar com o shuai jiao. Então eu utilizei alguns recursos para adaptar o ensino para que ele compreendesse alguns movimentos.

Dois Exemplos de Adaptações no Ensino

Como eu precisava que ele desenvolvesse força nos membros inferiores, utilizei um exercício de agachamento com a perna cruzada, característico da modalidade. Neste exercício é preciso girar na ponta dos pés sem tirá-los do lugar. A dificuldade dele era entender que ele precisava manter os pés no mesmo lugar. Então eu utilizei duas marcas onde ele deveria pisar com cada pé e assim ele foi capaz de entender.

O segundo exemplo é um tipo de projeção, onde a dificuldade era saber onde posicionar os pés. Então eu utilizei um par de pneus laranjas e outro par de pneus azuis. Nos pneus laranjas ele deveria pisar com o pé direito e nos pneus azuis com o pé esquerdo. Assim ele pode visualizar onde ele tinha que pisar e entendeu rapidamente a projeção. No vídeo abaixo você vê as adaptações com a minha explicação e o Pedro executando.

Identifique as Tendências do Aluno

As adaptações que foram relatadas e que você deve ter assistido no vídeo são ideias e provas de como adaptar o ensino. Para adaptar o ensino é preciso identificar quais são as habilidades que o aluno tende a aprender com mais facilidade. No meu caso, o Pedro tinha mais facilidade com projeções, por isso decidi focar neste tipo de habilidade.

O objetivo dos exercícios não era ensinar técnica, pois nessa fase isso não é importante. Eu tinha dois objetivos. O primeiro era que ele descobrisse possibilidades de movimento que ele não conhecia e incorporá-las ao seu comportamento motor. O segundo era desenvolver força nos membros inferiores para ser capaz de realizar alguns desses movimentos.

Utilize os Recursos Disponíveis

Depois disso pode ser necessário fazer uso de recursos materiais que você tenha à sua disposição. Você pode utilizar formas, cores, objetos ou equipamentos da modalidade, entre outras coisas. Às vezes você não precisa investir muito em recursos materiais. Muitas vezes você já possui recursos suficientes na sua academia ou em casa. Outras vezes os recursos que você pode utilizar são muito baratos.

Faça Associações

Por último, associe os movimentos com os objetos, cores, formas ou mesmo sons que você escolheu. No caso do Pedro funcionou com os pneus e discos de cores diferentes. No primeiro exemplo do vídeo você vê que eu cruzo os braços para inverter os discos de posição. Isso foi para manter as cores na mesma posição que utilizamos quando fizemos o exercícios antes de gravar o vídeo. Preferi fazer assim porque talvez invertendo a posição ele pudesse se confundir.

Anteriormente eu havia feito círculos no chão utilizando giz e não tive o mesmo resultado. Talvez funcionasse se eu tivesse desenhado setas apontando para a próxima marca. Talvez tivesse funcionado se eu tivesse desenhado um quadrado para um pé e um círculo para o outro. Mas esses foram testes que eu não fiz e o que funcionou foram os discos e pneus.

É preciso entender que não existe uma fórmula que funcione para todo mundo. Por isso é necessário compreender o movimento que se deseja ensinar e utilizar a criatividade para criar estratégias de ensino. Se você quer conhecer mais alternativas para ensinar, aprender ou compreender as técnicas de artes marciais com mais facilidade, clique aqui para conhecer a Universidade da Espada e assista a aula gratuita.

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