Para quem quer conhecer um pouco sobre filosofia das artes marciais e budismo zen, poucos livros são tão adequados para começar quanto A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen. Essa é uma leitura que eu recomendo para todos que querem conhecer essa dimensão filosófica das artes marciais.

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A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen relata a experiência de aprendizado do budismo zen pelo filósofo alemão Eugen Herrigel (1884-1955). Buscando o ponto de encontro entre todas as religiões, ele aceitou um convite para ensinar filosofia na Universidade Imperial de Tohoku.

Durante esse período, que foi de 1924 a 1929, ele se dedicou ao aprendizado do kyudo, arte marcial japonesa de tiro com arco. O kyudo é uma disciplina muito praticada no Japão, principalmente por aqueles que estudam o budismo zen. Segundo seu mestre, Kenzo Awa (1880-1939), Herrigel foi o único não japonês (naquela época) a compreender o espírito do zen.

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen Ensina a “Não-Finalidade”

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A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen ensina algo muito difícil de ser assimilado por nós ocidentais, de pensamento cartesiano e de espírito capitalista. O pensamento cartesiano divide o todo em partes, o que é muito bom para o desenvolvimento científico. Porém, é o oposto do zen, que considera tudo como uma unidade e não separa o sujeito do objeto.

Além disso, o pensamento capitalista exige a produtividade e o resultado rápido, por isso fazemos tudo pensando no objetivo final. Então em tudo o que fazemos buscamos uma “finalidade”, uma meta a ser atingida e ao focar nessa meta não damos a devida atenção para o processo até atingi-la.

É claro que o oriental também recebe essas mesmas influências. Não sabemos o quanto romanceamos a ideia que temos do leste asiático. Mas culturalmente, o extremo oriente me parece tender a enxergar mais as coisas como um todo e dar mais atenção ao processo, à trajetória, ao caminho. Isso tem raízes nas filosofias budista, hindu, taoísta, etc. (ou está nas raízes destas filosofias, o que considero que faz mais sentido) e se expressa em muitas de suas práticas corporais. Alguns exemplos são a yoga, qigong (chi kung), artes marciais e alguns tipos de dança.

Então, em contraposição ao nosso modo de viver correndo atrás de um objetivo, o zen vai nos ensinar a “não-finalidade”.

Praticando “Sem Finalidade”

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen quer nos mostrar que não precisamos fazer tudo em prol de um objetivo. Você deve estar se (ou me) questionando como fazer as coisas sem finalidade, sem objetivo. “Se eu treinar para um campeonato sem o objetivo de vencer, como eu vou treinar com tanto afinco?”.

Aqui estamos diante do nosso problema: precisamos de um estímulo externo para nos dedicar. Precisamos de uma medalha para alcançar ou uma faixa para conquistar. Algo semelhante a isso é dito no Caminho do Guerreiro Pacífico.

a arte cavalheiresca do arqueiro zen

Mas treinar “sem objetivo” não significa que não vão ter os resultados que buscamos. Na verdade, ao praticar “sem finalidade” o zen nos ensina a desapegar do resultado. Quando nos apegamos à meta, nós sofremos quando não a atingimos. Nos sentimos frustrados quando não repetimos ou melhoramos um resultado conquistado anteriormente.

A experiência de Herrigel nos ensina a viver com intensidade o percurso até a meta, pois fazendo isso o resultado chegará. A diferença é não vamos nos frustrar quando não atingirmos a meta, mas quando ela vier, a qualidade será outra.

Ao Mirar o Alvo o Arqueiro Aponta Para Si Mesmo

O arqueiro comum ou o iniciante no zen, tentará a todo custo atingir o “olho do touro” (centro do alvo). O arqueiro se frustra quando não acerta o tiro decisivo na competição. Mas o que o mestre Kenzo Awa ensina é que nem sempre um tiro certeiro é um bom tiro. Para o zen, um disparo que não atinge o alvo pode ser muito melhor do que um disparo certeiro.

Isso acontece porque, diferente da competição, o zen considera que acertar o alvo não é importante. A qualidade do disparo está no estado de espírito com o qual o arqueiro dispara. É controle sobre si mesmo, sobre a própria mente e não se deixar levar pela emoção do erro ou do acerto. É estar no aqui e agora, resumido na frase “uma flecha, uma vida” (leia O guerreiro e a morte).

Acertar o alvo qualquer acerta. Pode-se acertar até mesmo por sorte. Mas disparar estando com a mente presente no aqui e agora não é uma tarefa fácil. Exige um enorme esforço para “não se esforçar” e tem um efeito transformador na nossa consciência. Essa transformação que é o objetivo do zen e o kyudo é uma das ferramentas para atingi-la.

O arqueiro zen não atira para certar o alvo, ele atira para transformar a si mesmo. Quando ele atinge o alvo, na verdade ele atinge a si mesmo. Quando Herrigel executou um disparo como esse pela primeira vez, o mestre lhe disse “esse foi um disparo verdadeiro”.

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É Preciso Ir Muito Além da Técnica

Praticar com a mentalidade zen é experimentar o processo de aprendizado com o máximo de atenção. É ainda perceber a transformação desse processo sobre a sua autoconsciência. É algo que se busca com a prática de yoga e chi kung.

Praticar uma forma, um golpe contra um alvo ou uma projeção deveria ou ao menos poderia ser uma ferramenta semelhante. Muitas vezes não conseguimos repetir um golpe no alvo com a mesma qualidade do que o anterior. Na maioria das vezes não é uma questão meramente técnica, mas algo mais profundo – uma ansiedade por determinado resultado, pressa, impaciência ou qualquer tipo de instabilidade emocional e mental.

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen aponta para a direção de trabalhar com essas questões mais profundas do nosso ser. O meio que se utiliza para isso é a sua arte marcial, esporte ou arte, praticando com total atenção. Não atenção ao alvo, à vitória ou à beleza da performance, mas atenção plena àquele que executa o ato.

No kyudo ou no budismo zen essa é uma ferramenta para se atingir a iluminação ou estado chamado de zen. Mas nem todo mundo acredita ou busca isso. Mas mesmo sem esse objetivo, essa é uma forma de nos transformar como pessoas e conseguir atingir nossos resultados sem o peso da ansiedade.

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