A história das artes marciais alterna entre vários períodos de desenvolvimento, estagnação e declínio. Por isso, nesse artigo eu vou listar 5 pontos para fazer a arte marcial continuar a se desenvolver.

O desenvolvimento das artes marciais, não é algo linear. Ao contrário, é cheio de avanços e retrocessos assim como o desenvolvimento de qualquer outra coisa. Isso acontece porque depende muito do contexto histórico, das necessidades do momento. A maior parte do desenvolvimento das artes marciais se deu pela necessidade de sobrevivência. Por esse motivo, elas se desenvolviam muito em períodos de guerra, entrando em estagnação e por fim declínio em períodos de paz.

Essa era a grande crítica que Miyamoto Musashi, o mais famoso samurai da história do Japão, tinha em relação aos samurais do seu tempo. Musashi viveu durante o período entre os xogunatos Ashikaga e Tokugawa (1573-1603) e durante o Tokugawa (1603-1868). A era Tokugawa também é conhecida como período Edo, período em que a capital, hoje Tóquio, era chamada Edo. Enquanto o xogunato Ashikaga foi um período de muitas guerras, a era Tokugawa foi um período de paz no Japão. Nesse período os samurais passaram a exercer funções mais administrativas do que militares. Por isso, a crítica de Musashi era que os guerreiros desse tempo não estavam habilitados para combater caso fosse preciso.

O declínio das artes marciais aconteceu igualmente na China em decorrência de tempos de paz. Já na Coreia, durante o período Joseon (1392-1910), o país era controlado pela aristocracia. Por isso as artes marciais eram desencorajadas, com exceção do tiro com arco. Isso foi um problema durante as invasões japonesas, pois os soldados coreanos não estavam preparados para defender o país. Isso está documentado no Muye Dobo Tongji

Como Fazer a Arte Marcial Continuar a Se Desenvolver

As artes marciais podem entrar em estagnação e decadência por razões socioculturais, como no caso que você acabou de ler no parágrafo anterior. No final do século 19 os chineses perceberam que as artes marciais já não tinham mais efetividade nas guerras. Isso aconteceu durante as invasões estrangeiras, especialmente inglesas e mais tarde as japonesas. Nesse momento as artes marciais caíram em descrédito pelo chineses, que começaram a valorizar mais a cultura estrangeira. Foi então que elementos de educação física foram acrescentados às artes marciais.

A situação das artes marciais terem utilidade praticamente nula nas guerras perdura até os dias atuais. Assim, seus objetivos e funções passam a ser outros na nossa cultura. Por esse motivo atualmente elas se encontram em decadência e por vezes se transformam em esportes de combate. Não que os esportes de combate tenham um valor diminuído em relação às artes marciais. Cada um tem o seu valor, mas eles são diferentes. De todo modo, vou explicar esse processo de transformação futuramente em outro(s) artigo(s). Mas por causa desse retrocesso eu considero estes 5 pontos para fazer a arte marcial continuar a se desenvolver.

1# – Não Seja Reprodutivista

Se você quer fazer a arte marcial continuar a se desenvolver, você deve parar de simplesmente reproduzir o que os professores dizem só porque eles são professores. Muitos professores parecem ser uma autoridade no assunto e detentores de um conhecimento inquestionável. Porém a arte marcial foi transmitida por seres humanos tão falhos quanto nós mesmos. Por isso muitas vezes não temos como saber se as pessoas que fizeram as artes marciais chegarem até nós aprenderam e entenderam tudo completamente. Isso leva ao próximo ponto.

2# – Questione

Você só vai conseguir deixar de reproduzir discursos prontos e estereotipados se você começar a questioná-los. É preciso se perguntar se não existe mais além daquilo que você aprendeu e se não existe método de treino melhor. Embora professores de artes marciais historicamente não gostem de questionamentos, é preciso questionar o que você aprende. Meus alunos me questionam, nem sempre eles concordam comigo e nem sempre eu tenho respostas prontas para as perguntas deles. Isso me força a rever o que eu aprendi, aprender o que eu ainda não sei e criar métodos de ensino melhores. E questionar pode levá-los a descobrir aquilo que eu mesmo ainda não descobri.

3# – Pense Por Conta Própria

A partir do momento que você questiona, naturalmente você começa a desenvolver as suas próprias ideias. A expressão das suas próprias te leva a adquirir experiência individualcom as quais você constrói o seu próprio conhecimento. Sem experimentações, você se limitará à experiência dos outros e não saberá por conta própria o que é bom ou não. Assim, se algo não for bom, você não saberá e se for, você não terá certeza. É preciso pensar por conta própria para comparar o que você aprende com outras coisas que talvez sejam melhores. Para fazer a arte marcial continuar a se desenvolver é preciso sair da sua zona de conforto e ousar ir além.

4# – Busque os Princípios

Não adianta experimentar coisas aleatórias, é preciso ter algo para se guiar. É preciso ter liberdade dentro da regra, para isso são necessários princípios. Da mesma forma, não adianta aprender só técnicas. Técnicas são apenas manifestações dos elementos que permitem que elas existam, ou seja, dos princípios. Se você sabe as técnicas, mas não sabe os princípios por trás delas, você não consegue desenvolver variações quando necessário. Assim, fica refém de movimentos estereotipados que funcionam apenas nas situações que lhe foram ensinadas. Não dá para fazer a arte marcial continuar a se desenvolver sem princípios, pois são os princípios que constroem, não as técnicas.

5# – Pare Com o Clima de Competição

Isso é algo que eu levei mais de uma década para aprender. Embora exista uma competição saudável, treinar com o objetivo de vencer o seu parceiro é prejudicial. Aprendizado é um processo longo e o desejo de competir interrompe esse processo, já que a competição incentiva a pressa. Isso nos estimula a fazer qualquer coisa pela vitória, o que pula partes do processo de aprendizado. Assim, para vencer não é preciso aprender muito. Nas artes marciais vitória e derrota não significam nada, o que importa é aprender constantemente o máximo que puder. Então mesmo que seja um sparring, faça do treino um estudo e não uma competição. Querer derrotar o seu parceiro não vai fazer a arte marcial continuar a se desenvolver, mas a ajuda mútua vai.

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