Uma das grandes modificações que a modernidade trouxe para a prática de artes marciais foram as academias. Academias de artes marciais são totalmente equipadas e preparadas para o treino, trazendo conforto para os praticantes. Entretanto, veremos neste artigo que existem também vantagens em sair deste ambiente para treinar ao ar livre.

Antigamente o Normal Era Treinar ao Ar Livre

Séculos atrás o ambiente para a prática de artes marciais era rústico, sem praticamente nada do conforto que temos hoje.  Não havia grandes salões equipados para o aprendizado e treinamento dos civis como os das academias atuais. O comum era se treinar ao ar livre, com o chão que se tinha, seja um campo gramado, areia, terra batida ou pavimentado.

Mas também era comum se treinar num pátio ou sala na casa do professor. Até pouco tempo atrás isso ainda era muito comum e talvez ainda seja em muitos lugares.

Com a modernidade, a mudança de sentido das artes marciais e novas formas de organização social e econômica, as artes marciais alcançaram um público novo e maior. Assim, houve uma proliferação de academias que possibilitaram a massificação das artes marciais e sua comercialização.

A industrialização possibilitou o surgimento de empresas especializadas na produção de equipamento para a prática. Antes não era assim, quase não havia tatame, então se caia no chão que se tinha (ou seja, qualquer chão). Já as academias são ambientes idealizados especificamente para a prática. Isso tem suas vantagens por um lado, mas existem outras vantagens que só se consegue variando o ambiente de treino.

Existem Estímulos que Só Treinar ao Ar Livre Oferece

É muito importante ter o conforto da academia e o espaço reservado apenas para a prática de artes marciais. Mas existem três elementos que influenciam de forma muito significante no aprendizado: indivíduo, ambiente e tarefa. Vamos discutir aqui sobre o ambiente.

No ambiente da academia temos algumas vantagens importantes em relação a outros ambientes. Temos todos os equipamentos necessários, o piso é regular e não temos obstáculos que possam nos atrapalhar. É aí que reside tanto a vantagem quanto a desvantagem.

Assim, temos por um lado a ausência de elementos aleatórios no ambiente, o que nos garante segurança. Mas por outro somos privados de diversos estímulos necessários para o desenvolvimento do sistema nervoso e do desenvolvimento motor.

Uma mesma tarefa executada em ambientes diferentes oferece diferentes estímulos para um mesmo indivíduo. Portanto o espaço da academia é importante para desenvolver a nossa prática. Porém, existem alguns estímulos que só serão desenvolvidos fora da academia ou com adaptações do ambiente dentro dela.

#1 – Adaptação a Superfícies Com Diferentes Graus de Atrito

Um dos estímulos que treinar ao ar livre nos oferece é a adaptação a diferentes superfícies. Parece algo muito simples e insignificante, mas não é. Pisos diferentes com diferentes atritos afetam o nosso equilíbrio.

Assim, alguém que pratica apenas no tatame quando precisar executar os mesmos movimentos numa superfície à qual não está acostumado sentirá certa dificuldade em realizá-los. Se desequilibrar ou escorregar ao executar um chute na grama é algo muito fácil de acontecer para alguém desacostumado. Não importa o quão bem essa pessoa chute no tatame, pois o atrito da grama é outro.

Já em pisos com maior atrito se sente que o movimento trava. Muitas pessoas não conseguem executar movimentos que exigem rotação, como rasteiras, em superfícies com mais atrito do que estão acostumadas.

#2 – Receber Estímulos de Superfícies de Densidades Diferentes

Do mesmo jeito, que o atrito, a densidade de superfícies diferentes também nos afetam, especialmente na nossa capacidade de gerar força. Por isso sentimos que falta força e o esforço é maior na areia, por exemplo, do que no tatame. Isso acontece tanto pela diferença de atrito quanto pela diferença de densidade.

Isso pode ser sentido até mesmo ao mudar do tatame de raspa de pneu para o tatame de EVA. Ou então, quando o material do piso da área de competição é de densidade diferente do piso da academia.

#3 – Melhora do Controle e Estabilidade Articular

Treinar ao ar livre oferece estímulos importantes de estabilidade articular e percepção espacial por meio de terrenos acidentados. Esse tipo de terreno exige maior movimentação das articulações dos pés e dos tornozelos para se adaptar.

Claro que a adaptação das articulações dos pés dependem do tipo de calçado que você usa. Se você utilizar um calçado pouco flexível, as articulações dos pés se adaptarão apenas ao calçado, independente do terreno. Mas ainda assim, o sistema nervoso terá que enviar sinais para o controle do tornozelo.

Além do mais, esse tipo de terreno estimula de forma diferente a percepção espacial. É preciso perceber estar o tempo todo atento ao chão. Só que durante uma situação de combate isso deverá ser feito pelo tato, pois não se pode ficar olhando para o chão.

#4 – Desenvolvimento da Percepção Espacial

Treinar ao ar livre oferece um estímulo importantíssimo de percepção espacial. Fora das paredes da academia podemos encontrar diversos obstáculos, como árvores, bancos e outros. Isso faz com que você desenvolva uma percepção espacial maior do que dentro da academia, que é um ambiente viciado, onde há poucos imprevistos se comparado com o de uma praça, por exemplo.

Além do mais, você precisa prestar atenção a outras pessoas ao seu redor que podem estar fazendo outras coisas. Dentro da academia você apenas precisa se preocupar com pessoas que sabem o que você está fazendo e estão acostumadas com isso.

#5 – Desenvolvimento de um Referencial Interno de Direção

Muitas pessoas se perdem quando mudam de direção nos seus treinos. Isso acontece especialmente com quem treina formas. Isso é porque dentro da academia normalmente se treina as formas sempre para a mesma direção. Dessa forma se desenvolve um senso de direção baseado em elementos externos ao corpo, como uma parede, uma janela, etc.

Mas isso não acontece apenas com quem treina formas. Muitas vezes para se aprender uma técnica se usa algum elemento externo como referência. Quem nunca ouviu algo do tipo “agora olhe para a direção do bebedouro”?

Já quando você treina em ambientes abertos você desenvolve um referencial interno de direção. Você passa a ter uma noção de direção baseada apenas no seu corpo. Assim, você desenvolve mais a sua noção de direção e a lateralidade.

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3 Dicas Bônus

Seguindo estas 5 dicas, você receberá estímulos importantes que farão com que você se adapte mais facilmente a diferentes situações e ambientes. E para isso é importante que você treine tanto com os pés descalços, quanto calçados, pois os estímulos são diferentes.

Mas não deixe de treinar de acordo com o que é específico da sua modalidade. Se você treina shuai jiao, por exemplo, não adianta treinar descalço e deixar para utilizar a bota apenas no dia da competição. Se você treina sem calçado no tatame, a hora que você calçá-lo para competir você terá problemas de adaptação, mesmo que o piso seja o mesmo. É uma pequena diferença, mas são pequenos detalhes que fazem a diferença entre ser campeão ou não.

Dito isso, agora vamos para três dicas bônus.

#6 – A Qualidade do Ar É Melhor

A qualidade do ar de um ambiente ao ar livre é indiscutivelmente melhor do que o da academia. Isso faz com que seja mais agradável treinar ao ar livre do que dentro da academia. Por isso é bom desenvolver o hábito de sair para treinar em ambiente aberto.

#7 – Oportunidade de Divulgar Sua Modalidade

Para quem pratica uma modalidade menos conhecida, treinar ao ar livre é uma boa oportunidade de divulgá-la. Se a sua modalidade é ofuscada pelas modalidades da moda, vale à pena treinar ao ar livre. Assim, você dará a muitas pessoas a oportunidade de conhecer algo que elas ainda não conhecem.

E mesmo que a sua modalidade seja conhecida, se você é professor/professora e o público não te conhece, essa é uma forma de mostrar a ele que você existe.

#8 – Autonomia Para Treinar e Expressar Suas Ideias

A aula na academia costuma ser algo mais fechado e estático, onde você deve obedecer um certo planejamento ou ordem. Já quando você sai para treinar ao ar livre por conta própria, sem obrigação com horário, você tem a oportunidade de verificar se você sabe treinar por conta própria.

É importante que você consiga organizar o seu próprio treinamento. Se você sempre precisa do seu professor para dizer o que treinar, se você for treinar por conta própria você poderá não saber o que fazer. Portanto, é importante desenvolver essa autonomia para que você saiba o que fazer e até experimentar ideias novas. Se você quiser ideias do que treinar quando for ao ar livre, basta clicar aqui que eu posso te ajudar!

Bibliografia Sugerida

HAYWOOD, KATHLEEN M.; GETCHELL, NANCY. Desenvolvimento motor ao longo da vida. 6. ed. Editora Artmed, 2016.

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